segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pertencendo a lugar nenhum

As matrículas e rematrículas escolares estão a todo vapor aqui em Canoas.
Para quem estuda nas escolas municipais - como o Caio - a rematrícula garante a vaga no ano seguinte. As vagas que são disponibilizadas pela saída dos alunos para outras escolas, outros níveis de ensino, são distribuídas através de sorteio público, visto que são vagas bem concorridas. A vaga do Caio especificamente foi conseguida após sorteio com base na lei que prioriza seu ingresso na rede de ensino.
Lembro ainda do quanto fiquei feliz quando ele foi finalmente chamado para ingressar na escola. O quanto estamos sendo felizes neste quesito - inclusão, estímulo, sociabilização, aprendizado - ao longo dos 5 meses que Caio tem frequentado o jardim.

Mas, para mim parece claro que suas limitações especialmente físicas lhe impõem outro ritmo de desenvolvimento. A professora e monitora que o acompanham falam que o desenvolvimento dele é visível (e sim, eu vejo!). Mas que ele precisaria de mais um tempo na educação infantil, explorar melhor certas experiências sensoriais, lúdicas, antes de ingressar no ensino fundamental. Comentei aqui. A Secretaria de Educação indica que ele precisa ir para a primeira série, o que implicaria em trocar de escola, visto que já tem 6 anos completos. E isso me angustia, pois se os professores e demais profissionais acham prematuro para ele, eu acato, acredito. Alguns estudiosos são contra o ingresso no ensino fundamental com 6 anos inclusive para as crianças sem deficiência. Pois a SME quer que ele vá para a primeira série. Se for indicado que ele não tem condições de frequentá-la, deve ser encaminhado à uma escola especial.

Neste momento sofro por ver que, para grande parcela da sociedade, meu filho não pertence a lugar algum. Não tem um laudo definitivo de deficiência mental que o possibilitasse ser aceito numa escola de educação especial - onde, inclusive ele foi rejeitado no início deste ano, antes de ingressar em sua atual escola. Mas suas limitações físicas são barreira para a maioria das pessoas concebê-lo no ensino regular. E infelizmente, essa situação, de exclusão, de ser exceção onde nenhuma regra se aplica não se limita à escola...

Penso que luta gigante ainda teremos pela frente.
Tento imaginar como a batalha sem fim que foi para Flávia e sua família. Provar que por trás daquele corpo aparentemente inoperante havia um cérebro que entendia, absorvia conhecimentos e era capaz - com os devidos suportes - a dar as devidas respostas.

O cognitivo do Caio ainda é uma incógnita.
Ele alterna momentos de rápida resposta e interação com outros de aparente ausência.
Nenhum dos profissionais que o acompanham querem estabelecer ainda um atestado de comprometimento mental. Dizem que ele necessita ficar mais tempo exposto a mais estímulos para que possamos ver até onde ele consegue ir. E ele está indo bem.

É óbvio que ele tem atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Mas isso não quer dizer que ele é incapaz de aprender, de acompanhar. E sofro pensar que ele possa a ser impedido de mostrar sua potencial capacidade.

De qualquer forma, com ajuda e orientação de amigos, consegui reunir laudos de pediatra, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional que o acompanham, recomendando a permanência na educação infantil por mais um ano. Fiz uma solicitação de próprio punho, baseando meu requerimento no direito à temporalidade flexível do ano letivo que crianças portadoras de deficiência têm. Suas professoras fizeram um parecer. Amanhã entramos com a solicitação oficial na SME pela permanência do Caio. Espero que seja apreciado com brevidade ou minha ansiedade vai me consumir. A diretora me garante que, por enquanto, a vaga do Caio fica para ele mesmo, não é disponibilizada até que a Secretaria se pronuncie.

Cainho, Cainho, às vezes fico surpresa da quantidade de habilidades que tu colocas, diariamente, no colo da mamãe aqui... Mas se tem algo que aprendi contigo, meu filhote, é a não desistir. Vamos lutando sempre. Como dá, com as armas que temos... E com aquela fé teimosa, que tu me ensino há mais de 6 anos... Deus há de nos reservar o melhor. Acreditemos e aguardemos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sei o quanto é necessário que Caio fique no jardim, porque meu Gabriel fez cada série 2 vezes ate´chegar no fundamental, e hoje vejo o quanto foi necessário e maravilhoso, assim como veja que ele com 10 anos está estranhando o fundamental. Lute amiga, estarei na torcida SEMPRE por vocês, disso podes ter certeza. Desistir é uma palavra que não nos compete, JAMAIS. BEIJOS E FICA COM DEUS.