quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Asas ao meu pequeno pássaro

Frase muito conhecida por aí e de uma beleza e profundidade ímpares é a do jornalista Hodding Carter, que disse certa vez que “os dois maiores presentes que podemos dar aos nossos filhos são raízes e asas”.

Concordo e foi algo que sempre tentei fazer pelo Yuri, desde a mais tenra idade. Sempre lembro dele ainda bebezico e eu deixando ele passar de colo em colo, quando na verdade, no meu egoísmo de mãe de primeira viagem, eu não o quisesse fazê-lo. Queria fazer dele um menino sociável e que não necessitasse exclusivamente da mãe, por mais que isso me doesse. Deu certo (às vezes acho que até demais). Hoje, pré-adolescente, vou renovando as asas do meu Yuri, lhe permitindo algumas saídas sozinho, lhe dando algumas pequenas tarefas que exigem certa autonomia e responsabilidade. E a cada nova tentativa, o coração materno fica miudinho. Mas faz parte, é preciso, para ele e para mim.

Agora tentem imaginar esse mesmo processo em relação ao Caio. O meu eterno bebê. Ok, eu sei que ele não é bebê, nem gosta de ser tratado assim e eu não o trato assim. Mas o filho cuja vida foi tão batalhada desde sua turbulenta chegada. A criança cujos direitos eu preciso lutar ainda mais arduamente, todos os dias. O menino de saúde mais instável, delicada...

Colocá-lo na escola, nunca neguei, foi o grande rompimento do MEU cordão umbilical. Porque eu tinha muito medo de que ele não fosse bem aceito, bem tratado. Depois, tinha certeza que ninguém saberia cuidar dele e perceber suas sutis alterações de comportamento que podem virar crise como eu. E aí Caio recebe um anjo em forma de gente, a sua monitora, a tia Carla. Ela que me ensinou que não é preciso existir inclusão quando existe amor ao próximo. Ela que soube reconhecer as crises convulsivas do Caio quando elas mal se instalavam e providenciou o socorro imediato. Que ficou de mãos dadas comigo até ele entrar na UTI naquela crise mais forte. Ela que já aprendeu como o refluxo vem... Anjo, não há outra denominação.

Fico feliz demais em ver Caio tão bem inserido. Eu digo um milhão de vezes a quem me conhece: quero tudo para o Caio, que ele se reabilite mais, que talvez possa andar, se comunicar, cursar um curso superior... Sonho alto, eu sei. Mas, com os pés no chão, basicamente, o que desejo, em primeiríssimo lugar, é que ele seja feliz. E à medida que o vejo crescendo, desejo que ele possa realizar as coisas que são de sua vontade com alguma autonomia.

Tudo isso pra dizer que hoje Caio está com sua turma indo à Porto Alegre para o grandioso passeio de final de ano, no Museu de Ciências e Tecnologia da PUC. É o passeio mais longo que ele já fez (previsão de 6 horas entre ida e retorno) e o mais longe, em que eu não posso chegar em 15 ou 30 minutos caso necessite. E eu estou com o coração do tamanho de uma cabeça de alfinete. Insegura. A escola, talvez percebendo isso, me convidou para ir junto. Balancei, foi uma proposta tentadora. Mas, além de ter um compromisso profissional no final da tarde que ia conflitar, acho que preciso ainda aprender a seguir dando asas ao meu pequeno pássaro.

Se quero que meu filho seja visto como um igual e tenha as mesmas oportunidades dos demais, preciso confiar e deixá-lo ir, só com sua galerinha. Sim, ele tem especificidades. Mas preciso acreditar que ele está bem assessorado. E sei que ele está.

Voa meu lindo Caio, voa.
Descubra o mundo, fortaleça tuas amizades, rompa mais e mais barreiras.
Desfrute. Aprenda. Seja feliz.
Com muito orgulho e amor, a mamãe segue aqui, vendo tuas asinhas crescerem e buscarem novas paisagens.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Omissão, que fácil que é

Então que eu, que me julgo super antenada em algumas questões, vejo também o quão ingênua posso ser. Caio matriculado no jardim, educação infantil, ensino regular, começou as aulas 6 (SEIS) meses após sua inscrição porque eu sou brasileira e não desisto nunca, achei que agora tudo seriam flores.

Ha-ha-ha!
Só o que me resta.

Pessoal que me acompanha por aqui e pelo facebook tá vendo a peleia. Já são mais de 30 dias desde o meu pedido à Secretaria de Educação, amparado em parecer pedagógico de suas professora e monitora mais laudos de pediatra, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional que o acompanham, solicitando sua permanência por mais um ano na educação infantil.

Primeiro, o departamento de educação infantil, leu, pensou e chegou à conclusão que não era de sua alçada este assunto, passou para o CEIA - Centro de Educação Inclusiva e Acessibilidade. Este, por sua vez, como subdepartamento da Secretaria, leu a solicitação, achou (disse mas não escreveu) o pedido coerente mas afirmou que não tinha autonomia para uma decisão deste porte. O pedido foi encaminhado então à direção do departamento de inclusão. Que ficou com a papelada por mais de 10 dias, leu e deu um parecer: quem tem que decidir é o departamento de educação infantil!

Como assim? Estamos andando em círculos!

Na verdade, todo este episódio lamentavelmente me confronta com aquela verdade que já sabemos, nua e crua: a inclusão inexiste para algumas pessoas. Não é necessária, é trabalhosa, dispendiosa.

Todos sabem dos medos que tive no início do Caio na escola. E todos também viram como fomos felizes! Que serviço lindo, que inclusão de verdade sua escola faz. Passados 6 meses de convívio escolar, Caio é amado, aceito por colegas, professores, funcionários. É popular. Tem apresentado sinais claros de desenvolvimento cognitivo, motor e social. É um feliz estudante!

Eu não imaginei que sua inserção no grupo escolar fosse tão fácil. E é triste ver que os entraves burrocráticos, de funcionários públicos que fazem jus a má fama da categoria, estão tentando impedi-lo de seguir seu caminho. Querem que ele vá a todo pano para a primeira série do ensino fundamental. Ou, não tendo condições para, que vá logo para uma escola especial. Argumentam que se permitirem que ele fique agora, aos 6 anos, ainda aos 9 ou 10 estaremos desejando ele na educação infantil! Façam-me o favor! Parecem que torcem para que ele não seja apto ao ensino regular. Não querem lhe dar o tempo necessário para ele mostrar suas capacidades, desenvolver melhor suas potencialidades. A escola especial, que o rejeitou ano passado, entende que a paralisia cerebral não é necessariamente uma condição de incapacidade mental. Os gestores do nosso ensino regular estão com uma tremenda resistência em investir, em apostar, em pagar pra ver.

E o que mais me aborrece é que ninguém quer ser o pai da criança. Ninguém quer dizer SIM ou NÃO ao Caio e nosso pedido. É um jogo de empurra-empurra. Uma triste omissão de seus papéis na sociedade e no sistema educacional do município.

Já tive várias conversas pessoais com nosso prefeito porque eu previa que alguma dificuldade poderia atravessar nosso caminho. Ele já sabe muito bem quem é o Caio, sua história e como tem sido ativa sua participação na escola. Mas de nada adianta ele apoiar a inclusão em sua totalidade, se seus departamentos e secretarias subordinadas não seguem a mesma cartilha. Se preciso for, muito em breve, ele me reencontrará pessoalmente para tratar deste tema.

O lado positivo é que a própria escola comprou a briga junto comigo. Solicitaram à diretora que, na sua programação de vagas 2012 fizesse duas listas de Jardim: uma com o nome do Caio, outra sem. Ou seja, não resolveram nada. Ela se negou. Disse que a vaga é dele até alguém assumir oficialmente e com justificativa posição contrária. Eu agora estipulei um prazo. Dizem que dia 22 a diretora do departamento infantil retorna de férias. Anotem: dia 25 estarei na frente dela cobrando uma posição. Porque estão querendo nos matar no cansaço outra vez, tal e qual ano passado, quando o inscrevi em dezembro para que somente em maio ele fosse chamado. Não vai acontecer de novo. Além de escaldada, essa luta é fichinha diante de tantas outras que já travamos. E das que sei que ainda teremos pela frente. Mas se tem uma coisa que nunca vai acontecer, é meu filho deixar de ter a mesma oportunidade de crescimento das demais pessoas pela omissão de uns. Ah, isso não! Porque se omitir é muito fácil. "Não fui eu". Quero ver é ir a luta e dar a cara à tapa. Isso sim é para os fortes. E é o que eu e Caio somos.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Oração ao tempo

E lá se passou quase um mês e eu, de novo, não apareci por aqui.
É aquela velha história: ideias existem, mas às vezes me falta ânimo. E não é que eu não queira mais compartilhar. Quero e muito. Mas o tempo, ah esse deus dos mais lindos, como já disse Caetano... ele anda sendo cruel pra mim. Dia desses pedi no Facebook pro papai do Céu, só por um dia, me dar um dia com 36 horas.

Tento ver se isso é bom.
A vida tem sido intensa. Com suas dores e suas cores.
Mas na maior parte das vezes, já compartilhei isso aqui, o tempo me parece cruel. Tenho a impressão que ele não me permite saborear os instantes vividos. Às vezes, penso que ele me toma algo precioso, que não sei bem o que é.
Tenho medo de não estar fazendo jus ao tempo que ganho aqui nesta dimensão.
Ao tempo com meus filhos, com meus amores, com meus amigos.
Tenho medo de não estar sabendo aproveitar bem a viagem.



Tempo... é tudo o que eu almejo.
Ainda que eu saiba que o meu tempo é o agora.

Caio anda instável de saúde novamente e isso me angustia.
Nos intervalos das frequentes convulsões, voltaram as crises de refluxo/enxaqueca, com dias seguidos de vômitos.
Queria tanto uma explicação lógica e definitiva, um tratamento eficaz e perene. Mas isso, faz tempo que procuro, ainda não veio.
Sinto meu filho fragilizado e isso sim, faz de mim um cristal.
Quero que o tempo passe e reconquistemos a estabilidade de um ano atrás.

Em contrapartida, profissionalmente, vejo perspectivas.
Este foi um mês muito proveitoso com a formatação de trabalhos de conclusão de curso para faculdades. Gosto porque é um "dinheiro fácil", ao mesmo tempo que me mantém atualizada com assuntos diversos.
Na outra ponta, fui muito reconhecida por meu chefe e isso me fez bem. Penso que posso estar mais perto do que nunca, nos últimos 3 anos, de retomar minha profissão de uma forma digna, inteira. Sinto que as sementes plantadas, passado o tempo de germinação, começam a brotar com raízes boas.
Gostaria que o tempo passasse logo e pudesse me trazer esses almejados frutos.

Essa sou eu.
Esse eterno poço de contradições.
Vendo que já tive respiros no passado que gostaria de voltar a viver.
Querendo que o futuro me traga novas energias e motivação.

No meio de tudo isso, ganhei uma nova amizade que me tem sido muito preciosa.
Está me ajudando a acreditar que sim, tudo vai dar certo e eu vou encontrar um caminho de equilíbrio.

Como ansiosa nata e em tratamento, pra variar, hoje eu queria que o tempo já tivesse acontecido e na sua passagem trouxesse as respostas que tanto desejo.
Mas sei que é tudo no tempo de Deus.
Sigo confiando. E vivendo como dá.