segunda-feira, 26 de março de 2012

A grama do vizinho

Eu já escrevi sobre isso aqui no blog. Mais de uma vez, inclusive.
Mas, pra quem não acompanhava e, como costumo dizer, escrevo pra mim mesma. Para deixar registrado e tentar não esquecer.
Acho que ao longo destes poucos dias no hospital, pude mais uma vez relembrar que não, ao contrário do que costumamos pensar, a grama do vizinho não é sempre a mais verdinha.

Ao lado do atendimento excelente do HCSA, para mim que costumo "comprar" a dor dos outros, é muito triste também estar ali. Porque é um hospital exclusivo para crianças. Pequeninos com as mais diversas doenças, com deformidades jamais vistas, síndromes raríssimas. E suas mães, ali, lutando junto, tentando não esmorecer.

Eu não vou me fazer de supermulher e dizer que não acho que temos, às vezes, eu e Caio uma jornada difícil. Mas se tem algo que acho que aprendi ao longo destes quase 7 anos é que a nossa luta é somente a nossa luta. Nem a maior, nem a mais grave, nem a mais amena...

Nestes quase quatro dias, vi mães se perguntando no elevador: "O meu tá aqui há 6 meses, e o teu?". "Nós já fez 8, mas não tenho ideia de quando poderemos ir embora".

O próprio pessoal da enfermagem vinha me perguntar: "A senhora interna sempre aqui? Não lembro do Caio." Interna SEMPRE? Como assim?
E aí preciso viver isso para lembrar que sim, infelizmente a maiora das crianças com paralisia cerebral e epilepsia necessita de internações com alguma frequência. No segundo dia, minha colega de quarto passa a ser a mãe de uma menina de 14 anos. Ela diz que interna, em média, 3 vezes por ano. A última, passou Natal no hospital. Três meses depois, estavam de volta, sem previsão de alta.

Chego a me envergonhar por ter surtado tanto por uma internação para exames, eletiva, com previsão de quatro dias. Penso no quanto abençoados somos em termos tido agora nossa terceira internação em quase 7 anos... Mas também acho que não devemos minimizar o sofrimento alheio. A mãe que estava lá com a filhinha com infecção intestinal viral, agoniada pelo mero soro que a sua pequena necessitava também estava exausta e sofrendo legitimamente. Porque nunca queremos dor, sofrimento, desconforto, até mesmo contrariedade para nossos filhos.

O que fica disso tudo? A lembrança de que sempre temos algo a agradecer. Lamentar faz parte, é humano. Mas ter fé e agradecer cada dia, cada oportunidade de aprendizado, cada chance de seguir lutando por momentos melhores e para que nossa grama tenha a cor que tanto sonhamos; esta é a essência da vida, acredito eu. Como me disse um dia uma amiga "Deus não escolhe os capacitados. Ele capacita os escolhidos". Somos capazes de dar conta. E saber disso faz toda a diferença.

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