quarta-feira, 28 de março de 2012

O quanto estamos doando de nós?

Hoje à tarde fiz algo inédito nos meus quase 40 anos. Até me envergonho disto, mas ao mesmo tempo fico alegre por ter, enfim, tomado esta iniciativa. Já sou doadora cadastrada de medula, mas hoje doei sangue pela primeira vez. Eu sempre quis. Mas sempre posterguei.

Eu sempre soube da importância desse gesto tão simples. Caio precisou de transfusão de sangue logo após ao nascimento e mais adiante, ...em sua internação neonatal. E foi pela generosidade de alguém, que também hoje ele está aqui, trazendo tantas alegrias e emoções à minha vida.

Todo dia alguém precisa.
E eu acho que a gente também precisa. Não nos tornamos melhores. Nos tornamos mais humanos, como devemos ser.
Eu sempre comento que tenho muita alegria de ter gerado a vida dos meus filhos, de ter lhes dados à luz. Doar sangue, li hoje nos cartazes do Hemocentro, é a vida gerando mais vida!

Ao mesmo tempo que fiquei extremamente feliz comigo mesma, esta doação me fez pensar demais sobre as relações humanas como um todo. Fui doar para uma amiga em específico, que iria fazer uma cirurgia. Ela e seu amor fizeram campanha numa rede social. Ela precisava de três, apenas três doadores no mínimo. E entre as centenas que se consideram suas amigas nas redes, custou-se mais de uma semana a chegar ao número 3. Parece que até ultrapassamos a meta, dobrando-a. Mas ainda assim me questiono. Mais de uma centena de amigos e você precisa de sangue para uma cirurgia iminente. Quem é amigo o suficiente para realmente doar?


Motivos para não ir, todos devem ter algum. Mas, assim como falo de inclusão da pessoa com deficiência, falo da inclusão do ser humano enquanto sociedade, vida em comunidade, irmandade.

Eu fui doar somente quanto consegui conciliar a agenda do Caio. Deixei o Caio na escola às 14h10, peguei um ônibus às 14h25 até o metrô, peguei o metrô de Canoas até o centro de Porto Alegre, procurei mais um ônibus até o Hemocentro, distante do centro. Neste trajeto se passou 1h30min. Mais uma hora para fazer cadastro, triagem e a doação propriamente dita. E refazendo o percurso de volta... Cheguei na escola do Caio às 18h40. Não perdi nem gastei quatro horas e meia do meu tempo. Doei o meu tempo para esta amiga, porque quero que se recupere logo, se recupere bem. Doei meu sangue, vencendo minha fobia de agulhas (quando eu era criança precisei tomar 16 injeções em volta do umbigo por ter sido mordida por um cão raivoso), porque tenho exata noção de que vou precisar um dia. Talvez não precise de sangue, necessariamente, mas sei que vou precisar de ajuda. Faz parte da vida. Vou precisar de uma mão amiga, de alguém que me doe seu tempo, sua atenção. E talvez eu receba, por merecimento. Ou não. A vida decide.

Claro que o fenômeno dos muitos amigos não é de hoje. Cresci aprendendo que amigo, amigo de verdade, de fé, como cantavam Roberto & Erasmo, é joia rara. Mas se usamos a internet e as redes sociais para tantos movimentos coletivos, talvez seja mais uma oportunidade para refletirmos o quanto estamos dispostos a doar de nós mesmos em nossas relações.

Energéticamente, o que vai, vem.
Que possamos nos abrir para oferecer o nosso melhor ao próximo. Porque ele merece e nós também.
Ou, como sou autora dos Meus Frutos, que possamos semear o bem, a positividade, a afetividade. Sem interesse, sem cobrança. Simplesmente porque é bom, faz bem à nossa própria alma.

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