quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os olhos azuis de Caíto

Sou uma pessoa que detesta se envolver em polêmicas. Até porque acho que a grande maioria é inútil. Não se muda o pensamento de uma pessoa da noite para o dia e nem tenho esta pretensão. Neste sentido, acho as redes sociais bárbaras para trocar informações, ideias e, daí, quem sabe, aprender e resolver mudar de opinião. Mas acho que elas nos levam, principalmente, a refletir. E é o que faço neste momento...

Uma mãe que acho fantástica, criou uma logomarca que acho linda. Representa ela e o filho cadeirante. Ela tem um blog, que virou um livro. Agora, a marca virou uma tatuagem pessoal. E uma camiseta a ser comercializada. Meu primeiro instinto foi adquirir uma. Mas, de repente, travei.

Por favor, nenhuma relação com a luta pessoal desta mulher que é inspiradora, digna de todo respeito e admiração.  Mas euzinha aqui penso que a luta maior de todas nós, mães de crianças com deficiência (seja ela qual for) é pela igualdade. Igualdade de oportunidades, de acesso, de diversão, de escolaridade. Igualdade de reconhecimento.

Sempre digo que o Caio, por ser cadeirante, tem uma deficiência que salta aos olhos. Quando ele era mais novo, menor, e ainda ia no colo ou em carrinho de bebê, alguns não percebiam sua condição. Hoje, não temos como "escondê-la" - e nem, de longe, esta intenção. Mas me incomoda que as pessoas vejam antes de tudo a deficiência. Quero que as pessoas vejam a criança, primeiro, e isto é o mais difícil. Evito me beneficiar de filas preferenciais, por exemplo, a não ser que o Caio realmente não esteja bem disposto. Porque ser cadeirante é sua condição, o limita, o impossibilita até de algumas atividades, mas não lhe inferioriza. E, para a grande maioria da sociedade, é assim que a cadeira de rodas é vista: como uma prisão, um fardo.

A cadeira de rodas, já escrevi bastante sobre isso, libertou o Caio. Lhe oportuniza uma convivência social mais confortável e digna do que qualquer colo.

Eu posso estar errada, claro. Mas eu não sou uma mãe especial por ter o Caio. Posso me tornar uma mãe especial ao Caio E ao Yuri pela convivência que tento construir com eles. Posso me tornar especial, aos seus olhos e corações, pelas lembranças de que mim eles levarão ao longo de sua vida adulta. Mas não sou especial por ter um filho deficiente*. Não sou especial pelas lutas que travo por ele. Também travo lutas pelo Yuri, porém elas têm menor visibilidade. O que não quer dizer que sejam mais fáceis. 

Tudo o que faço por ambos os meus filhos, para mim, é algo quase instintivo, natural, porque sou simplesmente mãe. Que existem as boas e as más, acredito. Que maternidade é vocação, também creio. Mas há papéis e funções que são inerentes à maternidade, independente da condição do filho. 

Expus o tema no grupo de pais que participo na ACADEF. Citaram o exemplo do menino que tem lindos olhos azuis e que todos só falam na beleza da cor dos seus olhos. A ponto dele se incomodar e já fechar os olhos toda vez que é apresentado a alguém "novo". E ele diz à sua mãe: "Eu não sou só os olhos, sou uma pessoa inteira!". Acho que é isso. A cadeira de rodas do Caio salta aos olhos, inevitável. Mas ele não é só a cadeira. Ou nem é ela. Ela é um acessório a serviço dele. Ele é uma criança! Que brinca, sorri e merece ter seus direitos de criança plenamente respeitados - e que eles se sobreponham aos direitos dos portadores de deficiência, por exemplo, pois são ainda mais amplos. Os direitos das crianças são os direitos de TODAS as crianças - Yuri e Caio. Os direitos dos portadores de deficiência é direito do Caio, não do Yuri. Se tornam, portanto, excludentes. Que engraçado, não?

A psicóloga do grupo acha que salientar a cadeira é como ressaltar o pior lado. Eu não sei se concordo. Mas acho que as pessoas poderiam ver com mais atenção os verdadeiros "olhos azuis" do Caio. Que no caso dele são o sorriso, a alegria, a própria infância.

* Um longo tempo atrás eu escrevia diferente. De que não entendia as mulheres que não aceitavam o rótulo de "mãe especial". Acho que tudo depende do contexto. Esta sou eu, como mesmo me apresento pra vocês. Ou como tão bem disse Raul, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".

Um comentário:

Valmendel disse...

lindo, lindo, lindo!!