terça-feira, 3 de julho de 2012

Da capacidade de amar

A escola do Caio, já escrevi aqui, é bastante humilde. Municipal, localizada num bairro de subúrbio. Especialmente este ano, seus colegas são visivelmente bem carentes, materialmente falando. São crianças com pouca roupa, roupinhas bem gastas, calçados idem.

Algumas também com forte carência emocional, se percebe fácil. É só chegar com um sorriso, dar uma mão... e eles se grudam na gente, que nem chicletinho. Eu, como sempre sonhei ter uma penca de filhos, me realizo lá. Muitos são os que me abraçam, me pedem beijos, me elogiam, puxam assunto...

E é pra isso que me coração se abriu nos últimos tempos. Para a riqueza que estes pequenos carregam em seus coraçõezinhos tão puros. São crianças que já são judiadas pela vida. Casos em que o Conselho Tutelar precisou intervir. E têm amor transbordando.

Não só pelo carinho e igualdade que tratam o Caio. São cuidadosas.Se preocupam em cuidar os lanches diferenciados do Caio, se ele pode comer. São afetuosas. Dia desses eu saindo da sala com ele, um coleguinha corre e me dá um desenho: "Ó tia, fiz pro Caio, pra ele nunca esquecer de mim". Vim pra casa com o coração leve por aquele afago tão especial que ele fez ao meu filho e na minha alma.



Pois no dia seguinte, na mesma hora, volto para buscá-lo... e tem uma penca de desenhos nos aguardando. "Tia Cláudia, eu não quero que o Caio esqueça de mim". "Nem eu". "Ó, eu fiz um avião pra ele". "Eu desenhei uma pista e carrinhos". Um a um foram depositados no colo do Ito. E ele veio pra casa faceiro, ciente do tesouro que tinha em suas mãos: o tesouro da amizade verdadeira, pura, desinteressada.




Reflito sobre estudos que se fazem de gerações X, Y, Z. De crianças cristal, índigo e sei mais lá o quê. Eu acredito no futuro da humanidade. Porque vejo esse futuro literalmente sendo desenhado por crianças de alma superior à da minha geração. Vejo crianças que não se moldam por maus exemplos. Que superam adversidades e criam seu próprio modo de viver, alicerçado na solidariedade. Torço para que o crescimento não lhes traga o fim desta inocência. Que sigam acreditando e praticando a transformação que só a força do amor é capaz. Amor ao próximo. Amor à vida. Amor à alegria.


Me enterneço e me alegro com tanta capacidade de amar, ainda que seus cotidianos sejam moldados com rispidez. Dizem que damos o que recebemos. Os carentes coleguinhas do Caio me mostram quão ricos são. São vitoriosos. São exemplos de esperança e superação. Me mostram que se nada acontece por acaso, meu guerreiro está entre os seus iguais, junto a pequenos valentes. Que Deus os proteja sempre. Que seus corações permaneçam imensos ainda quando maiores eles se tornarem. E que a vida, no devido momento, lhes retorne com muito merecimento esta energia amorosa.

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