sábado, 10 de novembro de 2012

Apostas

Ontem recebi o aviso oficial que Caio só fará mais um mês de hidroterapia e receberá alta. É de praxe e eu até estava esperando que acontecesse. Infelizmente o sistema público de saúde não tem como absorver toda a demanda de pacientes em busca de reabilitação física. E então é feito um esquema de "rodízio". Caio já está na ACADEF (Associação Canoense de Deficientes Físicos) desde 2008. Na hidro, ele foi escalado para a primeira turma, em outubro do ano passado. Então, agora, dará vez, por pelo menos seis meses, para outra criança. Seguirá com as sessões de fisioterapia convencional.

Racionalmente eu entendo. Me coloco no lugar de quem está na angustiante fila de espera para iniciar um tratamento. Mas emocionalmente, fico insegura. A hidroterapia, especialmente, é uma das atividades mais prazerosas ao Caio. E, por isso mesmo, me parece uma das que mais pode trazer bons resultados, visto que ele se empenha para exercê-la.

Esse acontecimento comum - e, como disse, até mesmo esperado por mim - na rotina de quem faz reabilitação contínua - me levou a uma reflexão bem mais profunda (ou viajante....). Um dos meus maiores receios que tenho é o de encontrar profissionais que não "apostem" no meu Caio e em suas possibilidades. E não foram poucas as vezes em que virei as costas e abandonei médicos e tratamentos por conta dessa "falta de ousadia" deles.

Ainda nos primórdios de nossa história, encontrei um neurocirurgião que me dizia o tempo todo que eu não devia esperar nada do meu filho. Que ele jamais teria capacidade cognitiva, de interação, sequer de movimentos... E aí eu deixei foi de ir neste médico. Porque se tem uma coisa a que me proponho nesta vida é justamente o contrário proposto pelo tal doutor. Eu espero tudo do meu filho. Aposto alto. Jogo todas as minhas fichas. No princípio, a aposta vinha do desconhecimento do quadro verdadeiro dele. Depois, veio da negação do nível possível de comprometimento. Hoje, acredito que estou 100% consciente de tudo. Das prováveis limitações. Das dificuldades. Das incertezas. Mas eu ainda quero apostar nas possibilidades. Porque são elas que Caio desafia, a seu tempo, do seu modo.

As conquistas mais recentes acontecem justo onde mais me desestimularam e onde eu sempre mais quis acreditar e por onde mais rezei: na fala e no desenvolvimento cognitivo.  A deficiência física passou para segundo ou terceiro plano pra mim. Tenho conseguido, a meu modo e contrariando quem contraria a minha forma de pensamento, que Caio cresça e perceba o próprio crescimento, se tornando cada dia um menino mais alegre, mais feliz, mais atuante em seu grupo. Recentemente, rompi uma relação médico-paciente-família de mais de quatro anos. Tudo porque o médico entrou na zona de acomodação, do "é assim mesmo"... E não me arrependo de minhas novas escolhas.

Não é que eu indique isso substancialmente a toda mãe. Mas eu ainda acho que sim, temos o dom de saber bem - ainda que não tenhamos o estudo para tal - das possibilidades de nossos filhos. Tento manter os pés no chão. Me preparo para as limitações. Para que  um dia venha o veredito de que já trilhamos todo o caminho que tínhamos a explorar. E que não haverá mais nada a fazer, senão aceitar. Mas, por enquanto, eu sei que não é agora.  Agora é tempo de arriscar, de tentar, de não sossegar o facho. Caio é minha loteria, meu prêmio de obstinação. No seu tempo, do seu jeito, ele vai ganhando o mundo. E eu ganhando a certeza de que minhas apostas nunca serão em vão.

Um comentário:

PAULA SALOMÃO disse...

Oi, Claudinha! Indiquei teu blog para o prêmio Liebster, dedicado a blogs com menos de 200 seguidores e que pretende premiar a amabilidade, gentileza, beleza, simpatia do blog!

Passa lá no meu blog para pegar o desafio, depois é só indicar outros blogs também!

Beijos