segunda-feira, 4 de março de 2013

Um difícil começo


Quase uma semana depois do início das aulas do Caio no Ensino Fundamental e eu confesso, ainda estou em choque. Estou triste. Doída. Revoltada. Mas se tivesse que resumir tudo a uma só palavra ela seria frustração.

Eu não sou uma alienada. Sei que a grande maioria afirma que a inclusão não existe porque, infelizmente, a grande maioria dos pais e alunos deficientes não a conseguem vivenciar plenamente nos seus cotidianos. Não achei que seria tudo perfeito, mas achei que seria mais fácil.

A escola do Caio fez uma reunião dia 20 de fevereiro na qual apresentou o novo formato para o ensino fundamental I (de 1º a 4º ano): o turno integral. Haveria uma professora condutora, a da “matéria” propriamente dita. Mas a alfabetização e os demais processos de aprendizagem seriam intercalados com oficinas diversas: meio ambiente, capoeira, informática, xadrez, línguas... Assim, seria possível avaliar em quais áreas determinadas crianças se destacavam mais ou tinham mais aptidão para desenvolverem suas potencialidades. Em princípio, muito interessante. Se funcionar.

Há 45 alunos matriculados no primeiro ano. A ideia é dividi-los em três ou quatro grupos. Enquanto um fica em sala de aula, os outros dois ou três participam de oficinas diversas. Depois de um período de 30-40 minutos, é feito um rodízio. Esta foi a teoria. Na prática, mil erros de percurso. Alguns por falta de organização. Outros, no meu ponto de vista, por pura falta de respeito.

O primeiro ano tem Caio e Brenda, outra cadeirante, com pc. O segundo ano tem Thiago, idem quadro. Thiago já aluno da escola. Começou com uma escolha que ninguém me fará compreender. As salas do primeiro e segundo ano estão localizadas no segundo andar do prédio. Que não conta com elevador. Onde ninguém se responsabiliza por transportá-los via escada. Então o que aconteceu é que ao longo da primeira semana de aula, Caio, Brenda e Thiago ficaram confinados na sala de recursos, no térreo. Não tiveram acesso nem à turma nem aos horários de aula propriamente ditos. Mas também não tiveram acesso às oficinas, estas sim, todas realizadas no andar térreo. Porque NENHUM professor oficineiro ou condutor veio buscá-los!

Brenda, Caio e Thiago
Caio, que entende e vivenciou um ambiente escolar, ficou claramente frustrado. Onde estavam os colegas? As atividades em grupo? As conversas, as risadas? Thiago então, nem se fala, de doer o coração. Como fala de maneira fluente, cobrava: “eu quero ir pra sala com os meus colegas!”. Brenda está em sua primeira experiência escolar, mas também não mostrou contentamento com a situação.

Repito, porque nem eu mesma acredito: nenhum professor veio buscá-los para a aula, para as oficinas, sequer para o lanche. Como assim? Não há lista de chamada? Ninguém sabe da existência deles? Não sentem sua ausência? Para piorar ainda não há monitor para as crianças. Estão buscando estagiárias. Enquanto isso, somos três mães-monitoras, também confinadas na escola, tendo que atender nossos filhos integralmente. Ah, e quando as estagiárias vierem, elas não poderão alimentá-los nem ajudá-los com a higiene, seja trocando fralda (Brenda) ou conduzindo-os ao banheiro (Caio e Thiago). Porque, me disseram, é “exercício ilegal” da profissão de professor.

Eu sabia que seria difícil? Sim, sabia. Tinha medo e quase certeza de que não haveria outra Vó Corina em nossas vidas assim, caindo de presente dos céus. Mas, eu sou daquelas que costuma acreditar nas pessoas, que costuma confiar quando me é feita uma promessa – como foi o nosso caso. Caio iniciou idas à escola em setembro do ano passado! Semanalmente! Ou seja, sabiam que iriam recebê-lo! Me convidaram a matriculá-lo lá! Disseram que o queriam! E que esta adaptação seria justamente para a escola se adaptar às necessidades dele. Para que quando as aulas iniciassem, tudo já estivesse pronto e não se perdesse tempo indo atrás da estrutura necessária. E fico magoada e me sinto passada para trás. Perdi meu tempo e o do Caio. Freqüentamos a “adaptação” à toa.

E o que dizer de Thiago, que já é aluno da escola? Que está em processo de continuidade? Senti as crianças completamente excluídas. Ignoradas em sua existência e em seus direitos. E isso machuca. E revolta.

No término do primeiro dia, ainda em choque, vim pra casa e chorei até adormecer. No terceiro dia, pensei em não ir. Mas acho que é isso mesmo que a sociedade como um todo ainda espera: que desistamos. E não, não vou entregar os pontos. Sempre digo que minha meta é levar Caio à faculdade. Se depender de mim, da vontade dele e de nossa capacidade de lutar, vai acontecer!

Claro que já entramos em contato com autoridades responsáveis dentro da Secretaria Municipal de Educação. Hoje não teve aula. Há uma reunião pedagógica acontecendo, onde dois professores que estão engajados conosco iriam colocar as cartas na mesa. Para amanhã nos foi prometido um encontro na própria escola – e uma resposta – do Departamento de Inclusão da SME. Aguardo. Torço. Sexta-feira Caio conseguiu participar de duas oficinas, porque o monitor do Thiago ficou andando atrás de um, de outro, até que conseguiu com que eles ficassem com seus respectivos grupos. Quero confiar nas pessoas que me olharam no olho e me fizeram promessas de boas vindas ao Caio, ainda não cumpridas.

Caio e Brenda se reencontraram, depois de anos, pois já foram colegas de fisioterapia, quando tinham 1-2 aninhos!
A monitoria deixou de ser nosso maior problema. Mas eu deixei claro: não vou ficar acompanhando meu filho na escola. Isto não é inclusão. Ele tem direito à assistência integral. É lei, não é favor, não é benefício. Para Caio, como eu fui a mãe que mais esperneou, estão correndo para resolver a questão da monitora. Mas o mais grave é a exclusão acontecendo assim, abertamente. Na escola, mas sem escola.

Alguns hão de pensar: “Tá vendo? Disse que a inclusão existia...”. Sim, eu disse. Vivemos ela plenamente na educação infantil. Sigo acreditando que ela é possível. Difícil, sim. Longo caminho para mudar atitudes e mentalidades. Árdua luta pelo direito à igualdade. E vamos atrás. Sei que vou voltar aqui e escrever uma história, uma postagem diferente. 
Assim seja!

Um comentário:

Dani disse...

Oi Claudia!!!
Li atentamente o teu post!!! Nem sei o que dizer a respeito dos meus colegas que fizeram promessas e trataram o Caio e seus colegas desta forma. Que bom que já procuraste a Sec de Educação. Realmente as monitoras não poderão fazer a limpeza dos alunos, para isso, podes solicitar uma profissional da área de enfermagem. Estás sendo quase pioneira em tal luta, isso fará com que sofras um pouco, ou muito... O importante é não desistir e seguir munida deste sentimento: LUTAS POR UM DIREITO, NÃO PEDES UM FAVOR!!! Um beijo no <3!