Hoje, numa conversa com minha terapeuta, iniciei uma
retrospectiva do meu ano de 2014. Logo a seguir, fui para um evento sobre
Educação Inclusiva, a convite da Secretaria Municipal de Educação de Canoas. E
estes dois fatos juntos me fizeram refletir – coisa que eu já vinha fazendo –
sobre minhas ações, minhas lutas pela inclusão e acessibilidade.
Num primeiro momento, acho que fui mais “fraca” do que nos
anos anteriores. Menos atuante. Tenho a impressão que comprei menos brigas,
empunhei menos bandeiras. Não fiz postagens e deixei passar batido o dia do
deficiente, da paralisia cerebral, da epilepsia... Mas aí, veio a revelação...
Continuo acreditando que informação é o caminho para que o
preconceito diminua, as barreiras sejam quebradas e um futuro mais igualitário
possa ser construído. Porém, pude perceber, que eu segui lutando. Do modo mais
realista possível: vivendo.
Ser mãe de uma criança com deficiência é a minha realidade
desde que Caio nasceu. E aí, eu que luto tanto para que ele seja visto
primeiramente por sua infância, por sua individualidade, antes das próprias
patologias, consegui fazer isso na prática! Em 2014, fomos à escola, às
terapias de reabilitação, ao cinema, ao parquinho, na casa das avós, às
festinhas de família e amigos... Em 2014, vivemos! A nossa rotina, as nossas
atividades. Sem esbravejar tanto por isso, pois é – afinal – a nossa rotina, a nossa
realidade, o nosso destino.
Me parece que pode haver uma tênue linha entre aceitar e
acomodar. Cada vez mais eu aceito. Sigo lutando por dias cada vez melhores para
meu filho. E eles têm vindo. No seu ritmo. E no tempo que nos estava destinado.
Ele inicia um processo lento, porém muito exitoso de alfabetização. Interage cada
vez melhor, se faz entender pelos outros. Neurologicamente tem dado conta de um
cotidiano puxado e atarefado e fechamos mais de 8 meses sem crise convulsiva,
com a diminuição da medicação a um terço do usual nos últimos 2 anos. Motoramente tem progressos significativos,
adquirindo um controle cada vez maior de seu corpo e postura.
E eu vejo que estes são os resultados de uma luta travada
com amor. De uma vida que não precisa ser levada com uma faca em punho todos os
dias! Se estou vendo só flores? Conte-me você, pessoa “normal”, sem deficiência
ou patologia crônica, sobre nunca ser vítima de preconceito, injustiça, mau
atendimento em serviços públicos ou privados ou sobre como viver sem problemas
rotineiros... Percebem? A vida não é bolinho para ninguém, os desafios estão aí
para todos. Alguns em maior grau, outros em menor. Mas para todos.
Igualitariamente. Como o mundo que idealizo...
Claro que, realisticamente, meu filho faz parte de um
segmento da sociedade muitas vezes menosprezado e estigmatizado. Alguns
caminhos que para muitos é tão natural, para ele sempre será mais difícil. E eu
não estou com isso, erguendo a bandeira branca ao sistema. Certamente haverão os
dias em que será preciso erguer a voz, tirar a peixeira da cintura, derramar
lágrimas de sangue. Levante a mão aí quem nunca... Mas a gente não veio neste
mundo a passeio. Não mesmo. E eu tenho descoberto que é muito mais legal quando
a gente consegue lutar com um sorriso nos lábios.
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