terça-feira, 11 de abril de 2017

A culpa não é nossa!

Não é preciso assistir Big Brother para saber do que todos falam hoje. Eu não assisto. Sei o nome dos personagens envolvidos pela repercussão. Mas, impossível não querer entrar lá e dar um abraço apertado na Emily, pois soube que ela chorou ontem, após a expulsão do seu namorado. Queria abraçá-la e dizer: Ei, tu não estás só. Mas, principalmente: TU NÃO TENS CULPA DE NADA. Posso falar com propriedade. Já vivi um relacionamento abusivo. E a gente custa a enxergar a violência e custa ainda mais a entender que a culpa não é nossa.

No começo, eu recebi um apelido “carinhoso” que me relacionava a uma baleia. Aceitei. Mas não, não era carinho. Depois, passei a usar somente roupas bem compridas para não exibir minhas pernas, pois ouvia que elas eram horríveis. Cortei meu cabelo, antes bem longo, e passei a usá-lo sempre preso num rabo de cavalo, afinal era “feio, de negra, cabelo ruim”. E eu não conseguia perceber que tudo isso era agressão, tudo isso era violência. Na verdade, só me caiu a ficha quando levei o primeiro tapa. Mas ela já existia há muito tempo.

Essa é uma conversa que, sempre que posso, tenho com outras mulheres. Tudo que te machuca – física e emocionalmente – e que te constrange é violência, portanto é crime. Ser subjugada como fui, era violência. Ter minhas conversas virtuais hackeadas, montadas e usadas contra mim, era violência. Ser coagida – de forma falsamente carinhosa – a esconder meu corpo, era violência. A agressão física foi só o auge do que eu permiti. Sim, eu permiti. E este é outro ponto: não me julguem porque, durante tanto tempo, eu me submeti a esse relacionamento. Só quem é mulher sabe os medos: sociais, culturais, financeiros, familiares. E esses medos, por vezes, nos dilaceram tanto quanto a dor da violência em si.

A esposa de Victor decidiu retirar a acusação e é julgada. A de José Mayer afirma que vai manter-se casada e é julgada. Emily é julgada – e pior, inclusive por ela mesma. Que distorção de valores! Não são elas que cometeram os crimes. Se elas ficam, se elas se culpam, ainda assim elas não são culpadas! São as vítimas! Uma noite, a Brigada Militar bateu em minha casa, devido a denúncias de meus vizinhos. Com tantos medos, fui até a porta e disse que estava tudo bem, ainda que meu semblante denunciasse o contrário. E as autoridades nada puderam fazer, afinal naquele momento foi a minha escolha.



Desses episódios todos, recentes, e de minha história pessoal fica a lição de que mulheres vítimas de violência precisam de colo, de amparo legal, de compreensão. Não de mais dedos acusatórios lhes sendo apontados. Precisamos que nós mesmas, mulheres, não julguemos umas às outras. Que a sociedade abra os olhos de que a violência não é o tapa, o puxão de cabelo, o empurrão. Ela sempre começa muito antes. E que nós NUNCA somos culpadas. Não é a nossa roupa, a nossa conduta, o que seja. É o desvio de caráter do agressor. 

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